Impacto de incidentes críticos no esquecimento dirigido: Memória traumática na ferrovia em Portugal

SÉRGIO FONSECA & NUNO S. GASPAR

 

Resumo

Em Portugal, 727 pessoas foram colhidas mortalmente por comboios entre 2007 e 2017 (IMT, 2018). Este número representa 243 mortes por acidente e 484 mortes caracterizadas estatisticamente como suicídio e dada a violência da situação de colhida torna-se necessário investigar até que ponto os profissionais ferroviários envolvidos neste tipo de incidente crítico (IC) são afetados psicologicamente. Um comboio de passageiros é composto por uma tripulação mínima de 2 elementos sendo um deles maquinista e outro o Operador de Revisão e Venda (ORV). Cabe a este último, em caso de IC, prestar auxílio através da chamada de meios de socorro e assegurar a segurança da circulação ferroviária no local.
O Estudo 1 recolheu dados relativos ao ajustamento emocional numa amostra composta por 24 ORVs que prestam serviço nos comboios urbanos (12 com participação direta em pelo menos uma vez neste tipo de ocorrência mortal e 12 sem qualquer registo de participação em nenhum tipo de IC ferroviário). Foram encontradas diferenças significativas ao nível da sintomatologia traumática, ansiedade e depressão.
O Estudo 2 explorou se os ORVs envolvidos em pelo menos um IC, revelavam diferenças ao nível de memória, nomeadamente ao nível dos processos envolvidos numa tarefa de esquecimento dirigido (MacLeod, 1989). Os resultados obtidos mostraram que tanto os ORVs envolvidos em IC como os ORVs que nunca estiveram envolvidos em IC evidenciam o fenómeno de esquecimento dirigido.
Em conjunto, os estudos apresentados mostram que mesmo quando aspetos mais básicos do funcionamento cognitivo se mantêm, o bem-estar psicológico daqueles que experienciam situações traumáticas extremas é amplamente comprometido.

 

Palavras-chave

Esquecimento dirigido, memória traumática, memória intrusiva, colhida.

 

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